Gênesis VII – A Renovação do Tibia

Banor voltou-se novamente aos deuses em busca de ajuda. Como sempre, o engenhoso Uman foi quem encontrou uma solução, que se tornou possível graças a uma surpreendente descoberta: além das estruturas da existência, Uman identificou outras dimensões e planos distantes nos quais os deuses anciões não podiam sequer utilizar os seus poderes. Todavia, o deus ancião encontrou uma maneira de estabelecer conexão com esses planos alternativos e, após muitas tentativas, aprendeu a conjurar almas de criaturas vivas advindas desses planos. Quando trazidas ao Tibia, essas almas podiam adquirir a aparência humana, formando os campeões que a raça humana desesperadamente precisava. A resposta para os problemas da humanidade parecia ter sido desvendada e imediatamente foi posta em prática. Os deuses anciões espalharam diversos portais mágicos por todo o Tibia, portais esses que logo ficaram conhecidos como Portais das Almas. Por intermédio desses portais, inúmeros heróis  chegaram ao mundo, guerreiros humanos habilidosos e corajosos. Com a ajuda desses campeões, as hordas abomináveis foram progressivamente forçadas a recuar. Tudo levava a crer que a ordem seria restaurada.


As coisas pareciam mais favoráveis para a raça humana do que já vinham sendo há bastante tempo. A aliança entre os heróis e os humanos avançava cada vez no território inimigo, fazendo com que as hordas sombrias ficassem à margem de uma completa derrota. Entretanto, aqueles que acreditavam que as raças mais antigas seriam expurgadas do Tibia acabaram se precipitando, porque algo inesperado aconteceu. Confrontados com o poder aparentemente esmagador dos exércitos humanos, as antigas raças fizeram o que por séculos parecia impensável: concordaram com uma trégua. Dessa forma, dragões, orcs, mortos-vivos e todas as outras raças que durante tanto tempo lutaram entre si, subitamente pararam de atacar umas às outras e concentraram-se na guerra contra a raça humana. Outra vez as coisas voltaram a ficar complicadas. Ainda que seus inimigos não confiassem uns nos outros para formarem uma aliança realmente imbatível, o simples fato de terem parado de lutar entre si colocou os humanos em uma situação extremamente precária, forçando-os a adotar uma posição essencialmente defensiva.

Os exércitos humanos partiram em retirada e decidiram seguir a guerra sob a proteção de suas cidades fortificadas, mas, novamente, fizeram uma grande descoberta. Pela primeira vez na história, os inimigos dos humanos não buscaram dar continuidade à batalha. Não era fácil entender o que tinha motivado as hordas a agirem daquela maneira. Uma teoria comum postulava que as tensões e desconfianças existentes entre as antigas raças eram fortes demais para que continuassem cooperando entre si em uma campanha sustentável. Alguns afirmavam até mesmo que o conflito entre elas poderia ter recomeçado, enquanto outros sugeriam que as antigas raças já estavam cansadas demais após tantas guerras. Havia também aqueles que acreditavam na conquista de um suposto equilíbrio, isto é, um estado de coisas no qual todos enxergavam alguma possibilidade de viver em paz. Independentemente de qual seja a verdadeira razão, predominou, desde então, um período de tranquilidade e estabilidade. Aquele mundo conturbado havia alcançado pela primeira vez um alívio da incessante carnificina que o assolou durante eras.

A raça humana aproveitou bem a oportunidade. Por meio da sábia liderança dos reis de Thais, que são descendentes diretos de Banor, os humanos vivem atualmente uma era de ouro. As artes e as ciências se desenvolveram e muitas cidades prósperas foram fundadas. Evidentemente, a expansão dos humanos encontrou muita resistência e os intrépidos heróis que ainda chegam neste mundo através dos Portais das Almas estão sempre ocupados, lutando contra a constante ameaça oferecida pelos mais diversos tipos de criaturas hostis. Mas a raça humana tem se imposto até agora enquanto a espécie dominante do Tibia, apesar dos inquietantes sinais de que esse glorioso estado de coisas possa estar com os seus dias contados. O fato de os antigos inimigos dos seres humanos jamais terem sido derrotados parece ter provocado uma perigosa agitação. Orcs ferozes marcham novamente, atacando assentamentos humanos e até mesmo invadindo grandes cidades. Mortos-vivos voltam a andar sobre a terra e relatórios desconcertantes falam sobre terríveis dragões — adormecidos durante séculos — deixando seus covis ocultos. E, para agravar a situação, a raça humana começou a brigar entre si, o que resultou em demasiada tensão e conflitos armados. Com o passar do tempo, alguns humanos resolveram inclusive renunciar aos reis de Thais, fundando suas próprias cidades e impérios.

É possível que essa seja apenas outra das manobras maléficas de Zathroth.Todos sabem, afinal, que os seus subordinados mais diabólicos, os demons, estão à espreita, aguardando pacientemente pela sua vez. Talvez o Tibia esteja à beira de outra guerra cataclísmica, e ninguém, além do destino, sabe exatamente o que futuro está nos reservando. Resta-nos somente torcer para que a união dos humanos não seja arruinada justamente no momento em que nós mais precisarmos dela.